sexta-feira, 30 de março de 2012

Nem a morte vai nos separar

Imagens,fotografias e retratos de um romance que não tem mais volta.Só restou imagens em minha mente. Sonhando acordada eu lembro dos bons momentos, dos beijos, dos abraços do seu cheiro. Lembro como foi bom. Momentos únicos em minha vida. Momentos ruins também superamos, mas minhas imagens não mostram isso.

Saudade!Saudade de um tempo que foi e não voltará. Saudade de tudo que passou. Saudade até das discussões em meio a uma noite de tempestade. Eu saía correndo na chuva e com a roupa molhada eu gritava que te odiava e você me confortava com um abraço sincero e seguro.

Sonhar! Sonhar para relembrar. As fotos eu já rasguei, e com nosso amor eu as enterrei. Sem vontade de viver fui te procurar. Naquele instante senti um frio na barriga, e com medo de rejeição, caminhando pela rua, relembrava das vezes em que você me agarrava e minha boca beijava com ternura, com paixão. Peguei um táxi para chegar em sua casa e no caminho eu ia chorando com o mesmo medo, o medo de ser rejeitada.

Olhava pela janela do carro e prestava atenção nos casais de namorados que eu avistava. Juntos,felizes, e eles não sabiam que o amor não é tudo isso!

Desci do táxi, paguei a corrida e olhei atentamente ao meu redor para ter certeza que eu havia chegado ao meu destino. Ao perceber que eu já estava lá, caminhando lentamente, me dirigi à entrada de sua casa, parei na porta e observei a campainha, me perguntei “- O que estou fazendo aqui?!”.

Quando virei as costas e dei o primeiro passo para ir embora, eu pensava não ter sentido nenhum estar ali, ouvi uma voz gritar meu nome. Uma voz masculina que eu de certa forma conhecia, mas não queria conhecer, uma voz por quem um dia eu já liguei pra ouvi-la. Eu lentamente me virei para trás e fui recebida com um enorme sorriso, não acreditava no que estava vendo, ele me recebia e eu com uma vontade enorme de pular e gritar ao mundo que eu o amava, tinha que me conter e ficar calada. Atentamente sorri e fiquei cabisbaixa.

-Lola!Você por aqui?

-Oi Mateus!Eu estava passando e resolvi parar em sua casa para saber como estás!

Eu estava toda sem jeito, não me movia para nada e sem graça nenhuma conversei com ele, demonstrando que estava a procura de um amor.Demonstrei uma insegurança que não devia.

-Aceita entrar um pouco e conversarmos?

-Se você não estiver nada melhor para fazer...

E ele sorridente respondeu:

-Não,não Lola!

-Então eu adoraria.

-Então pode entrar,sinta-se à vontade!

Ao entrar ele me convidou para sentar. sentei um belo sofá de couro, dei uma olhada rápida em sua casa e não deixei de perceber que ele não havia mudado nada na casa, tudo estava do mesmo jeito, até o quadro que eu tinha dado para ele, ainda estava lá. Ele me olhava tão sorridente, me deixando assim tão sem graça em meio aquela situação.

-Lola!

Eu olhei para ele.

-Aceita um café, água...?

-Aceito uma água, sim.

-Com licença, eu vou providenciar, Madame...

E riu ao falar educadamente comigo. Ele estava na cozinha e eu na sala de estar, conversamos assim, distantes até ele trazer minha água. Perguntou se estava tudo bem, e assim conversamos. Eu continuava reparando cada detalhe de sua casa, até que eu gritei:

-O tempo não passou para você, não é?

-Como assim?Do que esta falando?

-Ué,estou falando da gente, do nosso amor!

-Do nosso amor? Tem coragem de tocar neste assunto depois de tanto tempo?

Eu de certa forma estava emocionada, mais não queria demonstrar, então, eu apontei para o mural que eu havia visto na parede. O mural dizia “O melhor de mim”.

Ele me olhou sem reação, envergonhado tentou disfarçar. Mais assim que viu que não tinha mais saída, sentou-se ao meu lado.

-Por que tem fotos minhas?-eu disse,as suas eu já rasguei, e com nosso amor eu as enterrei!

-Mas eu não, -disse ele sorrindo, nosso amor em mim sempre viveu. As fotos são provas de que tudo valeu a pena, e pode ter certeza que você foi o meu melhor.

Eu assustada de certa forma disse:

-Mas por que terminou comigo então?

- Eu descobri que tinha câncer e não quis te ver sofrer. Fiquei fora por uns tempos, pois te ver ia piorar meu estado.Eu...

Eu então interrompi:

-Não diga mais nada, me de um abraço!

Mateus ficou pálido, desmaiou e caiu. Fiquei desesperada, fui ao telefone, buscar ajuda. Ao lado do aparelho vi um bloco anotações. Lá estava escrito "Dr.João". Calculei que poderia ser seu médico, sem pensar muito, liguei para aquele número.

-Alô? Disse eu desesperada, por favor eu preciso de ajuda!

-Calma senhora, me passe seu endereço que o Dr. vai direto ai.

Dei o endereço e meu nome. Preocupada, me deitei ao seu lado até o médico vir. Eu chorava compulsivamente, sem saber o que estava acontecendo.

De repente a campainha toca, sem dúvidas era o Dr.João, para o qual eu havia ligado.

-Entre Dr., graças a Deus o senhor chegou! Respirei aliviada.

-Calma senhora...?

-Lola, somente Lola.

-Ahh sim Lola, me conte o que aconteceu.

Eu estava nervosa, nem sabia o que dizer. -Estávamos conversando e ele caiu no chão quando ia me dar um abraço!

O dr. perguntou:

-Algum motivo que o deixasse ansioso?

-Não, não Dr., ele estava me contando sobre a doença, mas aí caiu quando veio me abraçar!

O Dr. sem demora ligou para a emergência,uma ambulância iria buscá-lo.

Perguntei ao Dr. se Mateus ficaria bem e ele com um olhar de tristeza respondeu:

-Acho que não Lola, o caso dele é grave ele tem câncer nos pulmões, precisará de um tubo de oxigênio para respirar!

Naquela hora eu não sabia como reagir. Por um momento tudo que vivemos se passava em minha cabeça como um filme em preto e branco. Eu assistia a ambulância chegar e tirar ele de perto de mim. Vendo ele assim, desmaiado, doente e eu sem poder fazer nada.

-Vamos menina,a ambulância já esta saindo com ele.Você vai junto conosco? Disse o Dr.

- Sim, sim.Vou pegar minha bolsa. Eu concordei.

Entrei na ambulância e sentei ao lado dele. Fui chorando o caminho todo, sem pensar em mais nada. Chegando no hospital, ele ficou internado. Resolveram deixar ele lá, pois em casa ele não iria sobreviver, não tinha máquinas de respiração e teria que ficar em observação.

Fui até a sala de espera e liguei para sua mãe. Expliquei a situação e ela sem demora, chega ao hospital.

-Como meu filho esta Lola? Não minta pra mim ,como ele está?

Ela chorava descontrolada,não conseguia se conter. Eu a abrasei e disse:

-Clama Dona Beatriz, ele vai ficar bem, vai ficar em observação!

E ali ficamos a noite toda esperando uma noticia. Foi a pior noite da minha vida. Não conseguia dormir, pois esperava uma reação dele. A manhã e chegou e nada.

Como eu havia passado a noite no hospital do lado de fora do quarto, Dona Beatriz me disse:

-Vá para casa querida,você passou a noite aqui.Vá tomar um banho, um café e se depois se quiser volte.

Eu cansada, sem dormir, com enormes olheiras e o cabelo despenteado respondi:

-Vou sim Dona Beatriz, fique bem até eu voltar!

Fui me dirigindo à porta de entrada do hospital, quando ouvi um grito de alguém chamando pelo meu nome. Era Dona Beatriz chorando e gritando para mim.

-Lola.O Mateus Lola, ele não resistiu...

E assim ela caiu no chão chorando. Eu não acreditava no que ela havia dito, fiquei sem reação e depois de 30 segundos vendo-a no chão, comecei a chorar. Me passou cenas da gente juntos no parque, cenas até mesmos íntimas e eu olhava para o céu e dizia:

-Meu Deus por quê levastes de mim o amor de minha vida?O que será de mim agora?!

Eu não sabia o que fazer, estava desesperada. Fui falar com o médico. Na sala de espera nós duas descontroladas, eu e Dona Beatriz, esperávamos o Dr.Tinha mais uma família ao nosso lado, deveriam ser de um moço que estava sendo internado ao lado do quarto de Mateus. De repente o Dr. anunciando:

- Meus pêsames aos familiares de Mateus de Oliveira!Tentamos fazer o...

Então eu interrompi:

-Mateus de Oliveira? O senhor se enganou é Mateus Bernardo dos Santos.

O Dr. olhou a ficha e disse preocupado.

- Não, aqui está Mateus de Oliveira!

Foi aí que a outra família se manifestou.

- o que? O senhor tem certeza? Meu filho não Dr.,meu filho não!

Eu e Dona Beatriz apavoradas paramos de chorar por um instante e fomos até o quarto de Mateus. E ele estava lá, respirando com um tubo de oxigênio, dormindo, sem se mover. Ele estava pálido, mas estava vivo. Nesse momento nós duas nos abraçamos e agradecemos por não ter sido ele.

Fomos para casa animadas,felizes, completamente sorridentes.

Passou-se 1 semana,eu o visitava e conversava com ele mesmo estando dormindo. Acariciava seu rosto e ficava dizendo que o amava, o susto havia passado. O Dr. resolveu marcar a cirurgia para tentar salvar a vida de Mateus.

A cirurgia foi um sucesso. Mateus estava curado e de volta em meus braços.

Quando ele recebeu alta no hospital, resolvemos ficar juntos, e aquele mural que um dia se chamou "O melhor de mim" agora se chamava "A minha vida é você, meu anjo da guarda".


Bárbara Dornelles

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