segunda-feira, 18 de junho de 2012

Auto-traduzir

Por Bruna Souza ( a partir do poema Traduzir-se de Ferreira Gullar)

Uma parte de mim


apenas acredita:

outra parte descrê

na palavra que é dita.




Uma parte de mim

viaja pelo mundo:

outra parte se cala

sem rumo, sem fundo.





Uma parte de mim

é diversão:

outra parte apenas ilusão.




Uma parte de mim

é lógica e realista:

outra parte ultrapassa

o limite idealista.




Uma parte de mim

é medo e solidão:

outra parte domina

meu amor e minha razão.




Uma parte de mim

é sonhadora, incansável:

outra parte é ciente

responsável.




Auto-traduzir,

jeito de se conhecer,

jeito de se aprofundar,

jeito de saber e se perceber.

      Bruna Souza

domingo, 15 de abril de 2012

Cosplay

Por Felipe C. Nogueira - 3º ano Turma 2305



Poucas pessoas sabem o que é cosplay. E menos ainda sabem que essa palavra está crescendo cada vez mais na mídia.

Cosplay surgiu do abreviamento de duas palavras do inglês "costume" e "play" (ou roleplay) que respectivamente seria traduzido para "vestir" e "brincar", ou seja, "brincar de vestir-se". Esse hobby não é algo tão atual, o primeiro registro foi em 1939 durante a primeira Worldcon (um evento que acontece nos EUA sobre tecnologias e afins), e apesar de hoje em dia boa parte dos cosplayers (pessoas que fazem cosplay) vestirem-se de personagens de animes e mangás japoneses, essa prática se desenvolveu nos Estados Unidos em meados dos anos 70 quando fãs de Star Wars e Star Trek começaram a participar de pequenos eventos usando os trajes dos personagens das séries.


Mas afinal, o que é cosplay?

Cosplay é vestir-se do seu personagem favorito de qualquer origem, séries, filmes, histórias em quadrinhos, mangás.. Mas não se engane, isso não é apenas "fantasiar-se". Esse hobby possui uma mídia inteiramente só para ele, como revistas, sites, concursos (nacionais e internacionais) para aqueles que se dedicam e levam a sério esse hobby. Os que mais se destacam são aqueles que além de estar vestidos idênticos aos personagens, também saibam interpretá-los. Geralmente você encontrará cosplayers em eventos de anime, games e/ou cultura pop.


Os concursos

Os concursos são para quem gosta de, além de vestir seu personagem, interpretá-lo. Isto é, um tipo de teatro. Mas quem faz cosplay não precisa participar de algum concurso, assim como nem todos os que vão a eventos de cultura pop fazem cosplays, muitos apenas vão apreciar as atrações do evento (entre elas, ver os cosplayers). Existem concursos a níveis nacional e internacional. Eu, particularmente, já participei de um a nível nacional: o Cruzada Cosplay Brasil. Ganhei a seletiva que aconteceu em Porto Alegre, depois a que aconteceu em Rivera, e fui para a final no Rio de Janeiro competir com cosplayers de várias partes do Brasil.

O maior concurso do mundo é o World Cosplay Summit, ou "WCS", que acontece uma vez por ano e seleciona 15 duplas de 15 países diferentes. Para participar, primeiro a dupla deve procurar a seletiva mais próxima. Aqui no RS é em Porto Alegre, a dupla campeã aqui vai para a final que acontece em São Paulo, para ser decidido o campeão brasileiro. Depois de escolhido as 15 duplas campeãs dos 15 países (entre eles Alemanha, Estados Unidos, Itália e França), a final mundial acontece no Japão e é decidido os campeões mundiais do World Cosplay Summit.

Uma curiosidade, é que o Brasil é tricampeão nesse concurso. Ganhou nos anos de 2006 (no primeiro ano que entrou na disputa), em 2008, e em 2011.


O que se ganha com isso?

Essa é a pergunta que muitos que desconhecem a prática me fazem. Primeiramente, entenda que isso é um hobby, algo que você gosta de fazer sem esperar nada em troca. Mas sim, existe uma gratificação. Para aqueles que participam de concursos, alguns concursos fazem premiação em dinheiro e pode-se conhecer vários lugares do Brasil e do mundo, já que todos os custos das viagens são bancados pelos eventos que sediam as seletivas. Porém, esse não é o objetivo dos concursos. O objetivo é conseguir uma disputa saudável e aproximar aqueles que praticam e gostam desse hobby. Sem contar que, não é tão simples ganhar assim. É preciso dedicação e talento. A maior gratificação é fazer algo que você gosta e explorar ao máximo sua criatividade. Muitos que participam tem sua vida profissional voltada para alguma área como moda, fotografia ou teatro (no meu caso, eu adoro teatro), cosplay permite essas pessoas utilizar esses seus talentos no hobby.


***

Existem vários tipos de pessoas no mundo, alguns gostam de esportes e lutas, outros de ler e escrever, outros de vídeo games, alguns de teatro ou cinema, modelos, fotógrafos e músicos. Eu sou do tipo que gosta de fazer de tudo, eu faço cosplay.


"O maravilhoso da fantasia é nossa capacidade de podermos torná-la realidade."


Minha participação como Alone Hades:



Outras apresentações:


http://www.youtube.com/watch?v=-BrcrNPmMxU
http://www.youtube.com/watch?v=KCNWFR051EE

Esse vídeo mostra como é o ambiente em um evento onde cosplayers se encontram:
http://www.youtube.com/watch?v=7WLck5mFa2g&feature=player_embedded

terça-feira, 3 de abril de 2012

Primeiro sonho


Era uma tarde de quinta-feira, em meio ao trabalho monótono do dia-a-dia,
Antônio olhava para o nada, pensava com seu mais íntimo. O que pensava?

- Meu Deus! Será que é assim que vou morrer, preso nesta sala, tratado igual a
um bicho esquecido? Aturando falsidades de todos que me cercam neste escritório. Lá
se vão cinco décadas de minha vida, o que eu aproveitei ao longo disto se resume em
apenas uma medíocre palavra: NADA!

Antônio sabia que deveria tomar uma atitude ou seria condenado a uma vida
cheia de ilusões e amargura. Não tinha filhos (nunca pôde), embora fosse o seu maior
sonho, queria adotar, mas ficou apenas nos planos. Tinha uma esposa já havia trinta
anos, uma mulher elegante que ganhava dinheiro com vendas em uma loja no centro
da cidade.

Em meio aos seus pensamentos resolveu tomar uma decisão definitiva e
racional. Resolveu que iria viajar para esse mundo afora, junto com sua esposa, iria
aproveitar ao máximo o que a vida tinha a lhe oferecer. Iriam para muitos lugares
da Europa, América, Ásia, etc. Fariam tudo que pudessem e o que tivesse ao alcance
deles.

Pelo fato de Antônio ter nascido e uma família muito humilde, desde sua
juventude, juntava dinheiro. Os planos para este dinheiro seria para pagar a faculdade
de engenharia civil, porém nunca exerceu sua profissão. Hoje administra arquivos de
uma empresa qualquer, mas isso não vem ao caso neste momento.

Antônio juntou por vinte anos centavo por centavo, e nunca mexeu em uma
só moeda. A somatória de tudo foi uma quantia satisfatória, não sei ao certo quanto o
montante da economia.

Antônio chega às pressas em casa depois do expediente longo, com o carro
semi-usado, branco-desbotado. Quando chegou as vias de fato, falou de sua ideia à
esposa Isabel. Comentou sobre seus planos, desejos e recomendações. Deu-lhe a ideia
de fazer um acordo em seus respectivos empregos, como se fossem férias antecipadas
e enfim viajar para um sonho realista.

Isabel ficou com um ar de desconfiada, mas logo cedeu a vontade de seu
marido e até lhe veio uma sensação de ansiedade em começar a viagem.

Chega o grande dia, aumenta mais ainda a sensação de e ansiedade. Sorrisos
estão estampados da mesma forma nos dois, olhos lacrimejados de emoção e de
realização do sonho tão cativado. No aeroporto uma chamada feita. Os olhos se
voltaram para o painel eletrônico, ainda não era o tão esperado destino, a tensão só
aumentava em ambos. Mais uma chamada...

Chegou a hora de partir. O frio na barriga aumenta, parecem sem suas almas,
flutuam, pois afinal o primeiro sonho de Antônio esta prestes a se realizar.

O avião levantou voo. Isabel com um lampejo de pavor, apertou a mão de
Antônio e fechou os olhos, ele a olhou e deu um sorriso que quase não notável. Rumo
do primeiro destino... Europa. Era o lugar que mais queria conhecer, pois desde criança
gostava das histórias que de lá eram contadas.

Começaram então uma aventura inesquecível. Conheceram pessoas incríveis,
aprenderam mais e mais as histórias e culturas dos europeus. Foram para outros
lugares também, não se limitaram apenas a Europa, mas percorreram cada canto do
mundo, desvendando os mistérios do ser humano.

O rosto iluminado de Antônio falava por si só. O tamanho de sua satisfação, o
sorriso não cabia-lhe no rosto pequeno e judiado pelo tempo e sacrifício. Finalmente
estava fazendo algo que lhe dava felicidade e orgulho. Sua esposa estava feliz pela
viagem, mas principalmente por ver esta tamanha manifestação de seu marido, pois já
fazia muitos e muitos anos que não o via assim desta forma.

Viajaram. Fizeram tudo o que tinham vontade e direito de fazer. As lembranças
ficaram além de fotos, mas também em seus corações e almas do casal. Tiveram
uma lua de mel jamais imaginada, pois naquela época as condições não lhe cabiam.
Torraram tudo, mas com a melhor das formas possíveis.

Voltaram para casa. Os ânimos eram outros. O casal renovou, pareciam
ter dezessete anos outra vez. Era lindo de se ver, estavam tão felizes e tão mais
apaixonados. Regressaram para seus devidos trabalhos, mas agora vieram tão
mudados, de forma positiva, que Antônio conseguiu ser promovido a gerente e
sócio de sua empresa. A vida dos dois estava mudando, o amor reacendeu e até o
inesperado aconteceu... Adotaram uma menina de pele clara, cabelos negros e olhos
castanhos. A alegria é plena e completa, pois uma família foi constituída e assim
seguiram em frente com a vida totalmente renovada.

Bruna Oliveira.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Nem a morte vai nos separar

Imagens,fotografias e retratos de um romance que não tem mais volta.Só restou imagens em minha mente. Sonhando acordada eu lembro dos bons momentos, dos beijos, dos abraços do seu cheiro. Lembro como foi bom. Momentos únicos em minha vida. Momentos ruins também superamos, mas minhas imagens não mostram isso.

Saudade!Saudade de um tempo que foi e não voltará. Saudade de tudo que passou. Saudade até das discussões em meio a uma noite de tempestade. Eu saía correndo na chuva e com a roupa molhada eu gritava que te odiava e você me confortava com um abraço sincero e seguro.

Sonhar! Sonhar para relembrar. As fotos eu já rasguei, e com nosso amor eu as enterrei. Sem vontade de viver fui te procurar. Naquele instante senti um frio na barriga, e com medo de rejeição, caminhando pela rua, relembrava das vezes em que você me agarrava e minha boca beijava com ternura, com paixão. Peguei um táxi para chegar em sua casa e no caminho eu ia chorando com o mesmo medo, o medo de ser rejeitada.

Olhava pela janela do carro e prestava atenção nos casais de namorados que eu avistava. Juntos,felizes, e eles não sabiam que o amor não é tudo isso!

Desci do táxi, paguei a corrida e olhei atentamente ao meu redor para ter certeza que eu havia chegado ao meu destino. Ao perceber que eu já estava lá, caminhando lentamente, me dirigi à entrada de sua casa, parei na porta e observei a campainha, me perguntei “- O que estou fazendo aqui?!”.

Quando virei as costas e dei o primeiro passo para ir embora, eu pensava não ter sentido nenhum estar ali, ouvi uma voz gritar meu nome. Uma voz masculina que eu de certa forma conhecia, mas não queria conhecer, uma voz por quem um dia eu já liguei pra ouvi-la. Eu lentamente me virei para trás e fui recebida com um enorme sorriso, não acreditava no que estava vendo, ele me recebia e eu com uma vontade enorme de pular e gritar ao mundo que eu o amava, tinha que me conter e ficar calada. Atentamente sorri e fiquei cabisbaixa.

-Lola!Você por aqui?

-Oi Mateus!Eu estava passando e resolvi parar em sua casa para saber como estás!

Eu estava toda sem jeito, não me movia para nada e sem graça nenhuma conversei com ele, demonstrando que estava a procura de um amor.Demonstrei uma insegurança que não devia.

-Aceita entrar um pouco e conversarmos?

-Se você não estiver nada melhor para fazer...

E ele sorridente respondeu:

-Não,não Lola!

-Então eu adoraria.

-Então pode entrar,sinta-se à vontade!

Ao entrar ele me convidou para sentar. sentei um belo sofá de couro, dei uma olhada rápida em sua casa e não deixei de perceber que ele não havia mudado nada na casa, tudo estava do mesmo jeito, até o quadro que eu tinha dado para ele, ainda estava lá. Ele me olhava tão sorridente, me deixando assim tão sem graça em meio aquela situação.

-Lola!

Eu olhei para ele.

-Aceita um café, água...?

-Aceito uma água, sim.

-Com licença, eu vou providenciar, Madame...

E riu ao falar educadamente comigo. Ele estava na cozinha e eu na sala de estar, conversamos assim, distantes até ele trazer minha água. Perguntou se estava tudo bem, e assim conversamos. Eu continuava reparando cada detalhe de sua casa, até que eu gritei:

-O tempo não passou para você, não é?

-Como assim?Do que esta falando?

-Ué,estou falando da gente, do nosso amor!

-Do nosso amor? Tem coragem de tocar neste assunto depois de tanto tempo?

Eu de certa forma estava emocionada, mais não queria demonstrar, então, eu apontei para o mural que eu havia visto na parede. O mural dizia “O melhor de mim”.

Ele me olhou sem reação, envergonhado tentou disfarçar. Mais assim que viu que não tinha mais saída, sentou-se ao meu lado.

-Por que tem fotos minhas?-eu disse,as suas eu já rasguei, e com nosso amor eu as enterrei!

-Mas eu não, -disse ele sorrindo, nosso amor em mim sempre viveu. As fotos são provas de que tudo valeu a pena, e pode ter certeza que você foi o meu melhor.

Eu assustada de certa forma disse:

-Mas por que terminou comigo então?

- Eu descobri que tinha câncer e não quis te ver sofrer. Fiquei fora por uns tempos, pois te ver ia piorar meu estado.Eu...

Eu então interrompi:

-Não diga mais nada, me de um abraço!

Mateus ficou pálido, desmaiou e caiu. Fiquei desesperada, fui ao telefone, buscar ajuda. Ao lado do aparelho vi um bloco anotações. Lá estava escrito "Dr.João". Calculei que poderia ser seu médico, sem pensar muito, liguei para aquele número.

-Alô? Disse eu desesperada, por favor eu preciso de ajuda!

-Calma senhora, me passe seu endereço que o Dr. vai direto ai.

Dei o endereço e meu nome. Preocupada, me deitei ao seu lado até o médico vir. Eu chorava compulsivamente, sem saber o que estava acontecendo.

De repente a campainha toca, sem dúvidas era o Dr.João, para o qual eu havia ligado.

-Entre Dr., graças a Deus o senhor chegou! Respirei aliviada.

-Calma senhora...?

-Lola, somente Lola.

-Ahh sim Lola, me conte o que aconteceu.

Eu estava nervosa, nem sabia o que dizer. -Estávamos conversando e ele caiu no chão quando ia me dar um abraço!

O dr. perguntou:

-Algum motivo que o deixasse ansioso?

-Não, não Dr., ele estava me contando sobre a doença, mas aí caiu quando veio me abraçar!

O Dr. sem demora ligou para a emergência,uma ambulância iria buscá-lo.

Perguntei ao Dr. se Mateus ficaria bem e ele com um olhar de tristeza respondeu:

-Acho que não Lola, o caso dele é grave ele tem câncer nos pulmões, precisará de um tubo de oxigênio para respirar!

Naquela hora eu não sabia como reagir. Por um momento tudo que vivemos se passava em minha cabeça como um filme em preto e branco. Eu assistia a ambulância chegar e tirar ele de perto de mim. Vendo ele assim, desmaiado, doente e eu sem poder fazer nada.

-Vamos menina,a ambulância já esta saindo com ele.Você vai junto conosco? Disse o Dr.

- Sim, sim.Vou pegar minha bolsa. Eu concordei.

Entrei na ambulância e sentei ao lado dele. Fui chorando o caminho todo, sem pensar em mais nada. Chegando no hospital, ele ficou internado. Resolveram deixar ele lá, pois em casa ele não iria sobreviver, não tinha máquinas de respiração e teria que ficar em observação.

Fui até a sala de espera e liguei para sua mãe. Expliquei a situação e ela sem demora, chega ao hospital.

-Como meu filho esta Lola? Não minta pra mim ,como ele está?

Ela chorava descontrolada,não conseguia se conter. Eu a abrasei e disse:

-Clama Dona Beatriz, ele vai ficar bem, vai ficar em observação!

E ali ficamos a noite toda esperando uma noticia. Foi a pior noite da minha vida. Não conseguia dormir, pois esperava uma reação dele. A manhã e chegou e nada.

Como eu havia passado a noite no hospital do lado de fora do quarto, Dona Beatriz me disse:

-Vá para casa querida,você passou a noite aqui.Vá tomar um banho, um café e se depois se quiser volte.

Eu cansada, sem dormir, com enormes olheiras e o cabelo despenteado respondi:

-Vou sim Dona Beatriz, fique bem até eu voltar!

Fui me dirigindo à porta de entrada do hospital, quando ouvi um grito de alguém chamando pelo meu nome. Era Dona Beatriz chorando e gritando para mim.

-Lola.O Mateus Lola, ele não resistiu...

E assim ela caiu no chão chorando. Eu não acreditava no que ela havia dito, fiquei sem reação e depois de 30 segundos vendo-a no chão, comecei a chorar. Me passou cenas da gente juntos no parque, cenas até mesmos íntimas e eu olhava para o céu e dizia:

-Meu Deus por quê levastes de mim o amor de minha vida?O que será de mim agora?!

Eu não sabia o que fazer, estava desesperada. Fui falar com o médico. Na sala de espera nós duas descontroladas, eu e Dona Beatriz, esperávamos o Dr.Tinha mais uma família ao nosso lado, deveriam ser de um moço que estava sendo internado ao lado do quarto de Mateus. De repente o Dr. anunciando:

- Meus pêsames aos familiares de Mateus de Oliveira!Tentamos fazer o...

Então eu interrompi:

-Mateus de Oliveira? O senhor se enganou é Mateus Bernardo dos Santos.

O Dr. olhou a ficha e disse preocupado.

- Não, aqui está Mateus de Oliveira!

Foi aí que a outra família se manifestou.

- o que? O senhor tem certeza? Meu filho não Dr.,meu filho não!

Eu e Dona Beatriz apavoradas paramos de chorar por um instante e fomos até o quarto de Mateus. E ele estava lá, respirando com um tubo de oxigênio, dormindo, sem se mover. Ele estava pálido, mas estava vivo. Nesse momento nós duas nos abraçamos e agradecemos por não ter sido ele.

Fomos para casa animadas,felizes, completamente sorridentes.

Passou-se 1 semana,eu o visitava e conversava com ele mesmo estando dormindo. Acariciava seu rosto e ficava dizendo que o amava, o susto havia passado. O Dr. resolveu marcar a cirurgia para tentar salvar a vida de Mateus.

A cirurgia foi um sucesso. Mateus estava curado e de volta em meus braços.

Quando ele recebeu alta no hospital, resolvemos ficar juntos, e aquele mural que um dia se chamou "O melhor de mim" agora se chamava "A minha vida é você, meu anjo da guarda".


Bárbara Dornelles

quinta-feira, 29 de março de 2012

Ironias do destino

Sentada à janela, primeira classe mais do que merecida, apreciei maravilhada, quase sem fôlego o esplendor visto do alto: “Europa era linda demais”, pensei. Ao meu lado, um senhor de meia idade recostava-se a meu ombro e roncava alto. Não me importei muito com isso. Com certeza não devia ser pior do que o moleque mal educado que insistia em chutar minha poltrona a cada 5 min. Mas tudo bem, eu estava disposta a aproveitar cada segundo daquela viagem, nada poria meus planos abaixo. Nada.
            Talvez eu tenha sido um pouco precipitada com tal afirmação, considerando que assim que pus os pés em terra firme, para ser mais específica, em um hotel na França. Começaram-se os problemas, primeiro na recepção do hotel.
-Mas eu liguei ontem à noite para confirmar, como pode ter dado meu quarto a outra pessoa?
-Senhorita, lamentamos o mal entendido, mas não fui informada de tal confirmação. O quarto já está ocupado, mas há uma última suíte vaga...
-Ok. E quanto vai me custar a tal suíte?
-Vejamos... Aqui está! –apontou-me um valor extremamente absurdo, com uma quantidade significativamente grande de zeros.
-Meu Deus!
-É o que temos senhorita.
            Juro que pensei em dar meia volta e revirar as ruas de Paris à procura de algo mais acessível, mas lembrei de que já havia combinado com meu irmão e alguns amigos que todos ficaríamos naquele mesmo hotel pra não haver motivos para futuras alarmações. Hesitei por um instante antes de estender a mão para alcançar as chaves.
-Eu fico com a suíte.
-Agradecemos sua preferência.
            Bastou apenas que eu abrisse a porta para descobrir que todos aqueles zerinhos na prancheta da recepcionista não estavam lá à toa. O quarto era magnífico! Meio rústico, mas perfeito. Mais bonito que aquele só mesmo na televisão.
            Depois de duas longas horas na banheira de hidromassagem, voltei à recepção para certificar-me se meu irmão já não estava no hotel, fui informada de que ele estava com a namorada no quarto 314, vizinho ao que eu havia confirmada na noite passada.
-Você por aqui maninha? –indagou-me fingindo surpresa.
-Ha- ha-ha! -Ironizei.
-Chegamos agora a pouco. –disse Jessica surgindo logo atrás dele.
            Nunca fomos muito amigas, e eu para ser sincera nunca gostei muito da forma como ela tratava meu irmão, mas quem era eu para dizer como ela deveria tratá-lo...  Se ele gostava dela eu também haveria de gostar... Minha opinião de nada interferia. Ela era a namorada dele e eu era só mais uma solteirona perdida sem rumo implorando pela companhia de alguém.
            O quarto ao lado se abriu para minha surpresa, um rapaz de calção de banho e sorriso sedutor parou na minha frente implorando por meus olhos a lhe percorrem o corpo esguio dos pés à cabeça. Senti um arrepio ao fitar-lhe os olhos. Por algum motivo ele me fez lembrar minha família, não, na verdade era algo nele que me pareceu familiar demais... Max.
-Seu ladrãozinho de quarto! O que fez para ficar com meu quarto? Paquerou a recepcionista? –gritei irritada.
-Não, isso nem foi preciso já que ela tomou partido.
-Cretino. –resmunguei.
            Max era o cunhado do meu irmão, o pouco que eu sabia dele, eram os poucos comentários que eu ouvia: ele era um galinha.  Pediu para “ficar” comigo na primeira vez em que nos vimos, no aniversário da minha prima. Recusei e ele acabou ficando com ela. Nunca soube quem ele realmente era ou o que queria de mim, mas se ele fosse metade do que eu pensava que fosse, seria melhor que mantivéssemos total distância. Eu o odiava.
            Algumas horas após o almoço, nos reunirmos no salão principal para iniciarmos o tour pela cidade francesa. Estávamos em 16 pessoas, e como ninguém chegou a um consenso sobre onde ir, nos dividimos em duplas, assim se alguém se perdesse não ficaria sozinho pelo menos. Eu estava ansiosa para ir ao Museu do Louvre, e Max seria meu “companheiro”. Será que existia muitos lagos em Paris? Não, porque assim tudo seria mais fácil! Eu fingiria um tropeço e acidentalmente o empurraria lago adentro. Ambos não sabíamos nadar, o jeito seria eu pegar um saco de pipocas e assistir a cena sem piscar. Ai que horror! Como eu era diabólica!
-Onde vamos? –perguntou me tomando pela mão.
-Ao Louvre. – respondi enquanto passava a sua frente à passadas largas.
-Por que você me odeia?
-Eu não te odeio. –menti.
-Ah não? Então me deixe ao menos pegar sua mão!
-Você é como todos os outros! Primeiro é a mão, depois a perna e depois todo o resto. Eu não sou um pedaço de carne Max, não sou o tipo de garota com quem você está acostumado a lidar... –nem me preocupei em esconder as lágrimas que agora molhavam minha camiseta.
-Eu sei.
-Desde o dia que nos conhecemos a única coisa que você tem feito é me irritar!
-Mas eu gosto de te ver irritada, ao menos vejo você sorrir um pouquinho.
-E você se diverte com isso?
-Não, você é que se diverte com isso.
            Eu odiava admitir, mas ele estava certo. Lembrei-me das vezes em que fiquei triste e ele sentou-se a meu lado, eu não queria conversar e ele sabia disso, então simplesmente permanecia ali, calado. Talvez não soubesse o que dizer ou como reagir a uma de minhas crises emocionais, mas ele estava ali, e isso bastava. Ele implicava,provocava, irritava a não mais poder, mas o tempo inteiro ele só quis chamar minha atenção. Eu o ignorei por quase quatro anos, mas agora se tornava difícil não mirar aqueles olhos e enxergar o cara intrigante que se escondia atrás do olhar com envolvente.
-Sinto muito...  Por tudo.
-Hum, esquece isso, que tal um croissant? –perguntou pegando minha mão de volta.
-De chocolate branco?
-E de que mais seria?
            Seguimos às ruas de Paris em silêncio e quando chegamos ao hotel o silêncio foi quebrado.
-Quer fazer alguma coisa em especial?
-Não.
-Boa noite Daiane.
-Boa noite.
            Pensativa, coloquei meu biquíni e segui para a piscina do hotel. Sentei-me em uma espreguiçadeira e admirei a lua brilhante em contraste com o céu negro. Ela parecia brilhar cada vez mais, como se sorrindo para mim. Eu devia estar mesmo maluca.
-Que tal um banho? –perguntou uma voz familiar.
-Não, estou bem assim Max.
-Acho que não. –disse enquanto me tomava nos braços.
-Se eu fosse você não faria isso! –gritei tentando me soltar.
-É, mas você não é então...
            Não houve tempo pra mais nada, inclusive nem para apertar o laço do biquíni. Droga.
-Hum olha o que eu ganhei –disse levantando a parte de cima do meu biquíni feito criança com brinquedo novo.
-Me devolve isso agora!
-Ui ela tá com raivinha. –brincou enquanto se aproximava de mim.
-Por favor...
-Pega.
            Virei-me e o vesti o mais rápido que pude, segui para a escada.
-Não vai, fica.
-Pra quê? Pra você tentar um afogamento? Ah não, não, pra você ficar com a recepcionista na minha frente não é?
-Olha o que você tá dizendo guria!
-Quê? –gritei forçando a água que entupia meus ouvidos.
-Vem aqui que eu ajudo a desentupir.
            Aproximei-me cautelosamente, aprendi que com o Max era o que se precisava ter, muita cautela. Nunca se sabia qual seria seu próximo passo. Senti uma de suas mãos alcançar minha cintura e a outra acariciar minha face.
-É no ouvido. –lembrei com voz trêmula.
-Sério? –sibilou antes de cobrir meus lábios com os seus. O beijo foi suave, bem diferente do que eu imaginei que seria. Foi perfeito. Ele me fitou ansioso, pronto para receber minha bofetada, mas não tive forças pra isso. Eu ansiava por mais um beijo.Não precisei dizer nada, ele havia entendido. Tomou meus lábios novamente, dessa vez de uma forma tão apaixonada que chegava a ser confundido com desespero.
-O que você quer da sua vida? –perguntou de repente.
-Em que sentido?
-Quer ficar, namorar...?
-Depois dos idiotas que eu namorei, fiquei meio na dúvida quanto a isso, eu não sou o tipo de garota que fica com o time de futebol inteiro e se acha a melhor por isso, eu sou mais na minha, gosto de ter alguém sempre por perto e não acordar com um cara diferente todos os dias entende?
-Entendo.
            E ali ficamos por um bom tempo. Ora brincando ora trocando carinhos. E foi só quando o sol ameaçou se pôr que percebemos que havíamos nos empolgado um pouco. Meu celular tocou. Sem número.
-Alô?
            Só podia ouvir uma respiração ofegante do outro lado da linha.
-Alô? –repeti.
            Nada. Devia ser engano deduzi.
            Caminhamos de mãos dadas pelo corredor deserto que dava aos quartos.
-Bom, acho que é boa noite então.
-Não, é bom dia! São 5h20 da manha.
            Deu-me um último beijo antes de me deixar na porta de minha suíte. Peguei as chaves para abrir a porta. Mas que estranho, estava destrancada. Podia jurar que a havia chaveado. A luz estava acessa também. Enfim, entrei e tranquei a porta atrás de mim, temendo a entrada de um intruso, mas não me dei conta de que o intruso já estava ali. Senti um frio percorrer-me à espinha. Congelei. Diego me encarava com desprezo, garrafa de vinho em um canivete suíço em outra.
-Bom dia meu amor! Como foi sua noite?
            Embora tivesse vontade de gritar, não consegui.Me faltaram palavras.
-Ué, ué o Max comeu sua língua?
-Como chegou aqui? Saia do meu quarto agora!
-Você quis dizer do nosso quarto né meu amor? –apertou forte meu braço, enquanto me arrastava pelo quarto.
-Não aprendeu nada na cadeia seu idiota? Se me machucar mais uma vez, é lá que você vai passar suas próximas férias de verão!– o som da minha voz foi abafado por uma toalha.
-Sabe que eu até que aprendi umas coisas bem úteis lá... Tipo isso aqui! –senti uma dor aguda no abdômen. Uma... Duas... Três vezes. Em seguida um cheiro forte de sangue.
            Diego era o último de meus ex-namorados, namoramos por menos de uma semana. Ele achava que eu devia fazer o que ele mandasse e ai de mim se não obedecesse. Terminei com ele porque ele não passava de um idiota. Agrediu-me duas vezes e fora parar na cadeia por isso, mas agora ele estava ali, mostrando que as coisas só acabariam quando ele desejasse isso.
-Foi por aquilo lá que você me deixou? –perguntou referindo-se ao Max. –Por aquilo lá?
            Tentei me desvencilhar de seus braços, mas foi em vão. Minhas pernas me traíram, meu corpo tremia desvairado.
-Que foi amor? Não tá gostando do nosso encontro romântico? Olha, trouxe até um vinhozinho pra gente. Mas sabe de uma coisa, não estou com muita sede não, acho que você vai ter que beber tudo sozinha...
            Depois disso, as coisas aconteceram rápido demais para que as pudesse compreender... Ouvi o som de vidro sendo quebrado seguido de uma dor horrível na cabeça. A última coisa de que me lembro foi do ruído da porta sendo aberta e em seguida fechada. Depois não houve mais nada, só uma completa escuridão.
 ...
            Minha cabeça latejava, meu corpo inteiro doía como se tivesse sido esmagado. Abri os olhos lentamente, seja lá onde eu estivesse era claro demais. As luzes ofuscavam minha visão. Fechei os olhos e dormi.
            Quando acordei novamente, restavam poucas luzes acessas, mas eu não precisava de luz alguma para ter certeza de que estava num quarto de hospital. Percebi que alguém acabara cochilando no sofá bem ao lado de minha cama. Era Max. Eu estava certa... Ele nunca me abandonara. Cambaleei ao sair da cama, retirei a sonda com mãos trêmulas de uma só vez, evitando fazer barulho. Peguei meu cobertor e me aproximei de seu rosto.
-Max... –cochichei.
            Ele acordou num salto, me olhou perplexo antes de me puxar para si.
-Como você está? Sentindo alguma dor? Com fome? Sede? Frio? Enjoo? –indagou-me enquanto me segurava pelos ombros.
-Ei, tá tudo bem. Eu estou aqui. –o tranquilizei.
-Volte já pra cama mocinha! Você perdeu muito sangue. –me repreendeu- Ah, vem aqui –abraçou-me.
-Fica comigo.
Claro que sim Gatinha.
Deitamos no sofá e dormimos aninhados sob o cobertor.
            Quando os primeiros raios de sol entravam por minha janela foi que abri os olhos. No lugar onde Max estivera a noite inteira havia um travesseiro grande e fofo. Eu usava a sonda novamente e ao colocar a mão no abdômen pude sentir os pontos.
-Bom dia! –disse a enfermeira enquanto abria as cortinas.
-Onde ele está?
-Oh, está falando do rapaz bonito que não saiu de perto de você desde que a trouxe pra cá?
-Foi ele quem me trouxe?
-Sim, sim. Estava muito assustado o coitadinho.
-Ele foi embora?
-Não, foi buscar seu café da manhã.
            Alguns minutos mais tarde, Max atravessava a porta com uma enorme bandeja.
-Com fome?
-Muita.
            O café estava com uma cara ótima. Suco de laranja, leite, croissants e panqueca doce.
-Porque tem uma carinha feliz na minha panqueca?
-Achei que ia fazer você sorrir também.
            Abri um largo sorriso mostrando mais uma vez que ele estava certo.
-Come tudo que eu vou avisar aos outros que você já acordou.
-O que aconteceu com o Diego?
-Ele voltou pro lugar de onde nunca deveria ter saído. Não tem mais com o que se preocupar. Coma tudo está bem?
            Foi desgastante estar em Paris e ter de ficar o tempo inteiro no quarto do hotel. A cidade era mágica, romântica e cheia de mistérios. Eu queria conhecer bem mais daquele mundo. Estávamos há três semanas ali, e até aquele momento só me lembrava de ter ido ao Louvre e de ter dado uma passadinha rápida sob o Arc de Triomphe (Arco do Triunfo).
-Quer dar um passeio hoje? –perguntou Max enquanto entrava em meu quarto.
-Claro que sim! Temos só mais o fim de semana pra aproveitar.
-Esteja pronta em duas horas.
-Sim Mestre.
            Eu estava fascinada, tanto por Paris quanto por Max. Visitamos a Catedral de Notre-Dame, ficamos admirando por horas e horas a perfeição da Pirâmide Invertida e tiramos inúmera fotos sob a Torre Eiffel. Eu estava adorando cada segundo de sua companhia...
-Fique paradinha aí mesmo.
-Aqui? –perguntei enquanto parava em frente à Torre Eiffel
-Sim, perfeito.
            Max se aproximou com aquele mesmo olhar de menino levado como no nosso primeiro beijo na piscina, lembrei-me do céu naquela noite e de como a Lua havia “sorrido” para mim...  Teria me dado ela algum sinal? Bom, sinal ou não o fato era que eu gostava quando ele me olhava daquele jeito, era como se ele dissesse tudo e ao mesmo tempo nada, como se de alguma eu pudesse me perder naqueles olhos... E talvez pudesse mesmo, não, talvez eu quisesse.
-Que foi Max?
            Ele me fitava em silêncio, como se estivesse procurando as palavras certas.
-Eu não consigo mais... –disse por fim.
-Não consegue o que?
-Viver sem você.
            Senti meu coração parar por uns instantes antes de bater de forma frenética. Foi só aí que percebi as lágrimas a inundarem meu rosto.
            Quanto tempo eu havia perdido tentando me afastar dele... Quanto tempo eu havia perdido tentando enganar a mim mesma... Eu sempre gostei dele, sempre.
-Eu te amo. –sussurrou-me ao pé do ouvido.
-Je t’aime.
-Também não precisa me ofender né!
-É eu te amo em francês seu bobo.
-Eu sei disso sua boba.
            As pessoas iam e vinham. Algumas jamais voltavam. Muitas se perdiam no caminho de volta e outras nem tentavam voltar. Mas com Max era diferente, não havia motivo para querer ir a lugar algum, eu tinha tudo de que precisava, eu tinha tudo que me era necessário. Ele sempre esteve ali, e a partir daquele momento eu também estaria...
           
Juliane Lima

domingo, 25 de março de 2012

Um eu que nao sou eu


Um Eu que não sou eu
    Mentindo eu vou levando a vida, pois com cada mentira eu formo o meu caráter, e cada com verdade descubro meu eu. Quem sou eu? Alguém com pensamentos rodeados por duvidas a todo momento. Talvez uma pessoa que você gostaria de se espelhar, moreno, estatura mediana, olhos claros, pensando bem, se eu parar para analisar, é mais do que isto. Me olhando no espelho, vejo as marcas do tempo e das controvérsias que já vivi e sem duvida, que me tornaram sinônimo do meu próprio passado.
Acho que para mim a mentira se tornou um vício. Cada dia a abstinência bate e  tenho que de alguma forma enganar alguém, nem que seja o meu cachorro, ou até mesmo meu papagaio. Que criaturas insignificantes, não param de brigar um instante. O papagaio torna incomodar  o cachorro sempre que ele passa, e para não ficar atrás o cachorro corre desesperadamente  para pegá-lo, mas sempre sai perdendo.
Ocultar os fatos é a melhor forma que tem de se sentir aliviado mesmo que sem querer eu prejudique alguém. Quando algumas vezes me pego despercebido e me perco ao explicar e sem querer minto a mim mesmo.   
     Mas apesar de eu estar sempre mentindo é para refugiar um eu que eu não sou. Até lembro do dia em que estava no ginásio e me passei por atleta, nossa, eu era a sensação de lá, eu nem mesmo acreditava na tamanha mentira que eu acabara de contar. E o pior de tudo foi dizer que eu não era o fulano de tal, ainda bem que eu estava em boa forma aquele dia. Mas muitas vezes me pergunto: o que realmente quero? E penso que sem tal atitude eu não seria nada. Obviamente que seria, mas não a pessoa importante que eu sou, eu poderia até escrever um livro com tantas historias que vivi, situações que deixei de arriscar e me decepcionei. Fazer as coisas e ver o que acontece. Mas para isto eu ainda não estou apto.
 Levar a vida sem se ariscar não vale a pena. Principalmente quando você não pode olhar para nenhuma pessoa sem a desconfiança de que ela pode te meter a boca, na minha escola eu já meti tanta gente em confusão por causa das minha mentiras, mas só que esses dias eu aprontei a pior de todas, matei aula, justo em um dia que tinha prova, depois que eu tinha ido eu me lembrei, pois então no dia seguinte, fui contar uma mentira, a professora que me deu a prova para ver se eu podia fazê-la e ela imediatamente me mandou para direção. Ligou para os meus pais para ver realmente se eu estava com hipotermia, na hora meus pais ficaram furiosos e eu tomei uma suspensão de 5 dias e o pior é que eu não podia sair mais de casa durante um mês, acho que desta vez eu paro.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Um sonho lúcido

Imagens! Imagens! Imagens! Muitas vezes, quando ainda não sabia, me indagava de onde vinham as milhares de imagens que invadiam os meus sonhos, porque era imagens do tipo que nunca tinha visto na vida real estando acordado. Tudo começou quando estava aconchegado entre meus cobertores, era inverno e a tarde fria era convidativa para cochilar, por isso peguei um livro de Augusto Cury na estante e deitei-me para ler, mas acabei dormindo. Sentindo meu corpo formigar comecei a sonhar, e nesse sonho, a todo tempo estava sendo atingido por reflexos de uma luz muito brilhante, que ao mesmo instante passava sequencialmente imagens que nada tinham a ver com a realidade. Tinha a sensação de estar caindo, depois de estar voando... Na verdade não sabia para onde estava indo, o que me confortava era a sensação de paz. Ohhh paz que já havia esquecido! Devo ter morrido! ¬ Logo pensei. Deparei-me com uma mulher linda, de olhos verdes que me dizia: " Siga em frente!" Me perdi, queria ao menos saber qual o motivo para tanto delírio. À minha volta havia deuses e demônios. Gritos uivantes e cantos suaves. Me via vestido de imperador e me via nu, e outra vez de imperador e assim por diante... Voltar, voltar, voltar era só o que em meus pensamentos eu mais suplicava. E voltei. Vi um homem deitado, de pele clara, robusto, de cabelo escuro e um nariz bem pontudo e olhos cerrados, que embaixo das pálpebras eram azuis. Este homem com semblante triste, era eu. Inerte na cama. Deitado sob o corpo que não se movimentava, era como se tivéssemos, eu e o corpo, nos desprendido eternamente um do outro. Foi quando descobri que tinha o poder de comandar meus pensamentos. Aonde eu pensava ir, era lá que eu chegava. Não titubeei, mesmo não sabendo o que estava acontecendo, se tinha falecido ou enlouquecido, fui seguindo o caminho para a lua, desertos, geleiras, Europa. Lugares lindos, mulheres incríveis, prazeres incontáveis. Mas alguém começou a gritar, gritar muito meu nome – Johnny, Johnny. Abalado pelo desconforto sobressaltei-me na cama, saí correndo em direção à porta. Não era ninguém. Acordado, sentei-me no chão, ainda perturbado com gritos povoando minha mente. E as imagens, as imagens agora eram distorcidas, delirantes, incoerentes. Fechei os olhos e esperei que tudo disso fosse embora. Mas quando abri os olhos vi com mais clareza algo familiar, que aos poucos foi se distanciando... Do que vi lembro bem pouco. Mas entendi que a única coisa que eu não podia esquecer era aquela voz amiga, que me dizia " Siga em frente! " E eu seguirei sempre!